Dia dos Namorados
- Wanda, minha Namorada. Menina do coração.
Mais
um Dia dos Namorados, o nosso
sexagésimo quarto ano de namoro. Mais uma declaração de Amor com letra
maiúscula.
Já
o fizemos antes, mas é bom repetir o velho cancioneiro Nelson Gonçalves e
contradize-lo. Ele canta:
A minha história é voltar.
Nem sempre o primeiro amor
É a primeiro namorado.
Meu primeiro amor
É a primeira namorada.
E única! pra toda vida!
Sublime,
feliz é a nossa história, a minha história. História de Amor de Wanda e Tatai.
È
uma bela História de Amor que merece ser contada em prosa e verso, a fim de
provar que ainda existe o amor.
Nesta
terra abençoada por Deus, um dia inesquecível, janeiro de 1944 aconteceu. No intuito de conhecer a terra que me acolhia,
estávamos na ponta do jardim principal, olhando o céu, ouvindo os pássaros, refletindo
a vida que começava a nascer, aqui. O
Espírito de Deus nos apontava o caminho. Caminhos que nos marcaram a vida
inteira.
Do
jardim, estávamos em frente da saudosa Igrejinha de São Roque, desmanchada
pelos chuvas de 1964.
Enquanto
contamos esta história, as cenas voltam à memória e ao coração.
Era
dia de sábado, pela manhã. Olhando a Igrejinha, nem sei se acordando ou sem
sonho, vimos, descobrimos, percebemos, uma figura, uma menina, uma musa. Era
uma garota, uma fada, a menina que é a minha primeira e única namorada,
meu primeiro amor.
Minha Menina
Wanda
Não sabemos se ilusão, visão, magia ou o que nome
tenha, o todo desta menina me tocou bem no fundo do coração. Como se fosse
hoje, assim era e estava a menina musa:
Adolescente,
face límpida, olhar de fada, distraída, pura como anjo... Seu traje, então, nos
marcou: saia quadriculada, de alças, e uma blusa branca a completar o vestir.
Lindas, seus cabelo era duas tranças até a cintura, enlaçadas por duas fitas
bem grossas de gorgorão. Umas alpercatas simples cobriam-lhes os pezinhos.
A admitir
que vinha da feira, nas trazia nas mãos uma vassoura.
Minha menina
de tranças!
Amor à primeira, vista! Amor vivo e memorável, que permanece,
cada vez mais forte, perto de sessenta e cinco anos de namoro.
Contando esta visão aos colegas que nos trouxeram a
esta terra, de logo, nos disseram que ela era Celita, filha de Dona Delinha, ambas bordadeira de primeira linha. Conhecidas e estimada por
todos daqui.
1944. Os meses de fevereiro e março, foram de
procura, a fim de saber tudo sobre meu bem, a jovem e as tranças: Wanda. Assim
que ele soube desse apaixonado, parece que gostou da idéia. Nunca havia namorado antes.
Vivia com seus bastidores, bordando, bem cedo; aos
treze anos. O alfaiate e a bordadeira; 17 e 13 anos, suas idades.
Após furtivos e medrosos encontros, com saudades,
voltamos a Nazaré, nossa terra natal. Por poucos meses cartas vinham, iam,
aumentando a nossa saudade, já sem rumo, sem norte. Só pensávamos em Wanda, seu
nome certo. Até um dia, não mais suportando a saudade, combinamos com minhas
jóias queridas, Nair e Senhorazinha, irmã e tia, que nos criaram, e voltamos a
Ipiaú, correndo, voando. Sem eira nem beira. Duas ou três roupas brancas,
roupas internas, agulha, dedal e uma vontade doida de ver minha primeira
namorada. Tudo isso, certo de que algo mais forte que tudo nos indicava caminhos:
o Espírito de Deus.
E, num dos dias mais felizes da nossa vida, aqui
chegados, com a fé viva de que foi certa e bendita a nossa decisão. Revemos
minha querida Wanda e aqui começa a nossa vida, após deixar o orfanato onde estive dos 12 aos
16 anos de idade. Trouxemos conosco, graças a Deus, a honrosa profissão de alfaiate, o curso
ginasial completo, datilografia e a lembrança da filarmônica; tocávamos caixa. Permanente
recordação!
Ali, ficamos por dois ou três meses, enquanto
procurávamos um lugar para nossa tenda e começar nova vida. Ficamos hospedados
no pensionato modesto de Dona Cheta, onde permanecemos até o dia do casamento.
Nesse tempo, pequenos encontros com a namorada e
organização do nosso trabalho. Numa república e tenda de alfaiate, nos
instalamos perto do Shoping Liberdade. Pequeno espaço que cabiam cama, balcão,
três tamboretes e uma máquina emprestada. Conseguida pelo amigo e colega Fauze e
José Hagge. Aí está a descrição perfeita do nosso início de vida. Transferimo-nos
para a Praça Virgílio Damásio, já consolidado nosso seguro ambiente: uma
alfaiataria completa, sem nunca faltar trabalho.
Durante o dia no trabalho e pequenos encontros com
Wanda. Até o dia 17 de março de 1946, quando ficamos noivos. Começamos, então,
os encontros normais e as noites em casa, com Mãe Delinha sempre presente.
Namoro, noivado e casamento: 10.12.1948. Em todo esse
tempo, nada nos faltou. Amigos e protetores jamais no faltaram. Wanda, Mãe
Delinha e Tatai sempre viveram em plena harmonia.
Tatai e Wanda sempre no namoro que continua, sempre
em dia com os tempos.
Do nosso primeiro encontro até agora,
tudo o que somos e o que temos foi conquistado com muito
esforço. A fé e as graças de Deus sempre presente. Não paramos. Das profissões
iniciais ao estudo, aos livros, sempre em frente.
Unidos, de braços dados, vieram os oito filhos, 17
netos, dez bisnetos, genros e nora. Isso não nos impediu de estudar e evoluir, Como
professores, caminhamos, sempre juntos, aos colégios, ensinando nos três
turnos. Até a aposentadoria, que nos mantém, sempre unidos em oração. Aleluia.
Viva o Dia dos Namorados!
Passando dos oitenta, a nossa conversa é sempre
atual. Lembranças só as que nos edifica. Estamos em dia com as coisas atuais,
sobretudo, a tecnologia moderna. Os filhos e os netos nos conduzem e com
eles o relacionamento é sadio. Ativo,
amoroso.
Por tudo isso, minha querida Wanda, por todo o amor
que lhe tenho,
Feliz Dia dos Namorados!
Ipiaú (Ba), 42 de junho de 2013.