quarta-feira, 12 de junho de 2013

Dia dos Namorados



 - Wanda, minha Namorada. Menina do coração.

Mais um Dia dos Namorados, o nosso sexagésimo quarto ano de namoro. Mais uma declaração de Amor com letra maiúscula.

Já o fizemos antes, mas é bom repetir o velho cancioneiro Nelson Gonçalves e contradize-lo. Ele canta:

A minha história é voltar.
Nem sempre o primeiro amor
É a primeiro namorado.
Meu primeiro amor
É a primeira namorada.
E única! pra toda vida!

Sublime, feliz é a nossa história, a minha história.  História de Amor de Wanda e Tatai.

È uma bela História de Amor que merece ser contada em prosa e verso, a fim de provar que ainda existe o amor.

Nesta terra abençoada por Deus, um dia inesquecível, janeiro de  1944 aconteceu.  No intuito de conhecer a terra que me acolhia, estávamos na ponta do jardim principal, olhando o céu, ouvindo os pássaros, refletindo a vida que começava  a nascer, aqui. O Espírito de Deus nos apontava o caminho. Caminhos que nos marcaram a vida inteira. 

Do jardim, estávamos em frente da saudosa Igrejinha de São Roque, desmanchada pelos chuvas de 1964.

Enquanto contamos esta história, as cenas voltam à memória e ao coração.

Era dia de sábado, pela manhã. Olhando a Igrejinha, nem sei se acordando ou sem sonho, vimos, descobrimos, percebemos, uma figura, uma menina, uma musa. Era uma garota, uma fada, a menina que é a minha primeira e única namorada,

meu primeiro amor.

Minha Menina Wanda
  


 Não sabemos se ilusão, visão, magia ou o que nome tenha, o todo desta menina me tocou bem no fundo do coração. Como se fosse hoje, assim era e estava a menina musa:

Adolescente, face límpida, olhar de fada, distraída, pura como anjo... Seu traje, então, nos marcou: saia quadriculada, de alças, e uma blusa branca a completar o vestir. Lindas, seus cabelo era duas tranças até a cintura, enlaçadas por duas fitas bem grossas de gorgorão. Umas alpercatas simples cobriam-lhes os pezinhos.

A admitir que vinha da feira, nas trazia nas mãos uma vassoura.
  


Minha menina de tranças!

Amor à primeira, vista! Amor vivo e memorável, que permanece, cada vez mais forte, perto de sessenta e cinco anos de namoro.

Contando esta visão aos colegas que nos trouxeram a esta terra, de logo, nos disseram que ela era Celita, filha de Dona Delinha, ambas bordadeira de  primeira linha. Conhecidas e estimada por todos daqui.

1944. Os meses de fevereiro e março, foram de procura, a fim de saber tudo sobre meu bem, a jovem e as tranças: Wanda. Assim que ele soube desse apaixonado, parece que gostou da idéia.  Nunca havia namorado antes.

Vivia com seus bastidores, bordando, bem cedo; aos treze anos. O alfaiate e a bordadeira; 17 e 13 anos, suas idades.

Após furtivos e medrosos encontros, com saudades, voltamos a Nazaré, nossa terra natal. Por poucos meses cartas vinham, iam, aumentando a nossa saudade, já sem rumo, sem norte. Só pensávamos em Wanda, seu nome certo. Até um dia, não mais suportando a saudade, combinamos com minhas jóias queridas, Nair e Senhorazinha, irmã e tia, que nos criaram, e voltamos a Ipiaú, correndo, voando. Sem eira nem beira. Duas ou três roupas brancas, roupas internas, agulha, dedal e uma vontade doida de ver minha primeira namorada. Tudo isso, certo de que algo mais forte que tudo nos indicava caminhos: o Espírito de Deus.

E, num dos dias mais felizes da nossa vida, aqui chegados, com a fé viva de que foi certa e bendita a nossa decisão. Revemos minha querida Wanda e aqui começa a nossa vida,  após deixar o orfanato onde estive dos 12 aos 16 anos de idade. Trouxemos conosco, graças a Deus,  a honrosa profissão de alfaiate, o curso ginasial completo, datilografia e a lembrança da filarmônica; tocávamos caixa. Permanente recordação!
  

  
No meado de 1944, voltamos para ficar. Alojamo-nos na casa do casal Antero Mota e Dona Helenita, lar já por nós conhecido e querido.

Ali, ficamos por dois ou três meses, enquanto procurávamos um lugar para nossa tenda e começar nova vida. Ficamos hospedados no pensionato modesto de Dona Cheta, onde permanecemos até o dia do casamento.

Nesse tempo, pequenos encontros com a namorada e organização do nosso trabalho. Numa república e tenda de alfaiate, nos instalamos perto do Shoping Liberdade. Pequeno espaço que cabiam cama, balcão, três tamboretes e uma máquina emprestada. Conseguida pelo amigo e colega Fauze e José Hagge. Aí está a descrição perfeita do nosso início de vida. Transferimo-nos para a Praça Virgílio Damásio, já consolidado nosso seguro ambiente: uma alfaiataria completa, sem nunca faltar trabalho.

Durante o dia no trabalho e pequenos encontros com Wanda. Até o dia 17 de março de 1946, quando ficamos noivos. Começamos, então, os encontros normais e as noites em casa, com Mãe Delinha sempre presente.

Namoro, noivado e casamento: 10.12.1948. Em todo esse tempo, nada nos faltou. Amigos e protetores jamais no faltaram. Wanda, Mãe Delinha e Tatai sempre viveram em plena harmonia.

Tatai e Wanda sempre no namoro que continua, sempre em dia com os tempos.

Do nosso primeiro encontro até agora,
tudo o que somos e o que temos foi conquistado com muito esforço. A fé e as graças de Deus sempre presente. Não paramos. Das profissões iniciais ao estudo, aos livros, sempre em frente.

Unidos, de braços dados, vieram os oito filhos, 17 netos, dez bisnetos, genros e nora. Isso não nos impediu de estudar e evoluir, Como professores, caminhamos, sempre juntos, aos colégios, ensinando nos três turnos. Até a aposentadoria, que nos mantém, sempre unidos em oração. Aleluia.
Viva o Dia dos Namorados!



 Passando dos oitenta, a nossa conversa é sempre atual. Lembranças só as que nos edifica.  Estamos em dia com as coisas atuais, sobretudo, a tecnologia moderna. Os filhos e os netos nos conduzem e com eles  o relacionamento é sadio. Ativo, amoroso.

Por tudo isso, minha querida Wanda, por todo o amor que lhe tenho,

Feliz Dia dos Namorados!


Ipiaú (Ba), 42 de junho de 2013.