Irreverente, comprometido somente com a verdade, deixou inimigos às pampas; no entanto, estão nos seus livros, nos seus discursos, nas suas palestras e meditações verdadeiros tesouros de religião, filosofia, psicologia, uma cosmovisão sem comentários.
Dentre os seus livros, não nos lembramos bem de onde, lemos esta história: se em “A Semente de Mostarda”, “Palavras de Fogo” ou “Nem água nem lua” - esta última com seu verdadeiro nome, Bhagwan Shree Rajneesh.
Sem mudar o sentido, tentaremos, em forma de parábola, narrar aos leitores esta história, rica em humildade e sabedoria.
Um Mestre Zen estava às portas da morte. Seus discípulos e admiradores, toda a comunidade está aflita com a saúde do sábio. Ele era, além de iluminado, um homem bom, simples que a todos atendia sem formalidade alguma.
A historia tão bonita; a vida do mestre Zen.
Pensaram e os seus discípulos puseram em prática. No leito de morte, inquiriram eles ao Mestre Zen, pedindo-lhe, como recordação, que lhes contasse os fatos mais importantes da sua vida, que o fizeram ser mestre Zen. Sábio, iluminado!
Com voz baixa e com dificuldade, o mestre convidou seus discípulos a ouvi-lo. E contou:
E aprendi assim: bebia água no rio, apanhando-a com o chapéu e sorvendo bem devagar. Numa das vezes em que bebia água, vi um cão aproximar-se do rio, entrar na água um pouco mais fundo e, com a boca, beber sua água.
De imediato, joguei de lado o chapéu e, com a boca, comecei a beber água do rio. Não mais precisava do chapéu para beber água. Eu tenho boca.
Segunda: honestidade.
Meia dúzia ou mesmo uma dúzia de políticos e altas autoridades, nos três níveis, tiram a diferença. Aumentam impostos, aumentam salários pessoais, dão as cartas e as pessoas, coitadas, comendo o pão que o diabo amassou. Roubos, treitas por todo lado e o famoso jeitinho brasileiro, a fim de evitar o nepotismo, políticos nomeiam mães uns de outros e tudo fica por isso mesmo.
Tudo passa, tudo é esquecido, vale tudo na política. Nada se apurou, faz de contas que nada houve, foi conversa da imprensa e continua a Polícia Federal a prender gente e soltar, consoante a lei daqui, lei dali.
Pelo amor de Deus cadê os mensalões, os valeriodutos, os dólares nas cuecas, os “dossieres” das eleições, os caça-níqueis, as ambulâncias, fortunas nas ilhas da fantasia. Inquéritos e mais inquéritos sem conclusões e ninguém na cadeia nem a devolução de um centavo. Golpe mais novo de desonestidade dos “grandes”: dinheiro escondido na parece.
“Nas suas andanças pelo mundo, mendigando, olhando as árvores, cheirando as flores, sentindo a relva aos seus pés, parecia não dar conta da cidade próxima a chegar. Foi ficando tarde, a noite chegando e, quando menos esperava, chegou à cidade tarde da noite.
Casas fechadas, aqui e ali, se ouvia um canto ou um latido; nem um pé de pessoa com quem conversar ou pedir asilo.
Com fome e cansado, sentou-se num banco da praça, quando percebeu ao longe, uma luzinha e ao que lhe parecia uma porta aberta, com um tênue luz a alumiar sua esperança de abrigo e, quem sabe, comer alguma coisa.
Aproximou-se, entrou na casa e sentou-se num tosco banco existente na sala. E cochilou sendo acordado por um cidadão, mascarado, com um enorme saco nas costas.
Acabando de tirar a máscara, confessou que desde menino, era ladrão. Apanhava uma coisa aqui, outra ali, sempre escondido e calado em tudo o que fazia. Acostumou-se a roubar e essa foi e é a sua profissão. Ladrão honesto, angariou a simpatia do mestre que com ele conviveu mais de um mês, acompanhando, todas as noites, a sua rotina de ladrão. Saía, sempre com uma máscara, fazia o seu serviço e voltava para dormir e descansar durante o dia.
Fato curioso. Enquando vivia a sua vida de ladrão, nunca deixou de observar o jeito de ser do mestre Zen, sempre absorto em suas meditações, suas orações, sua vida contemplativa. Angariou a simpatia do mestre e ganhou dele a mesma confiança e afeto.
Após completar um mês de convivência, falando em ir embora, o ladrão, honesto, manifestou vontade de acompanhar o mestre e não houve quem o desfizesse desse propósito.
E lá se foi ele com o mestre, a essa altura, mendigando, orando, cumprindo os desígnios da vida contemplativa”.
A honestidade do ladrão marcou, com o exemplo, a vida do mestre Zen.
Vejamos bem. Um cão e um ladrão influíram na vida de um mestre! E a terceira história.
O conhecimento por mais evoluído e sofisticado, por mais profundo que seja, esvai-se com o corpo, ele é do corpo. Lembremo-nos de Sócrates que, sem cerimônia e para o espanto dos de todos, afirmou que só uma coisa sabia: “sei apenas que nada sei”.
A essa sabedoria refere-se o mestre no seu aprendizado de vida narrado aos discípulos na hora da morte.
Já com os olhos meio fechados, com dificuldade, contou o mestre Zen a sua terceira história, referente, como as anteriores, ao seu longo aprendizado no curso sua vida de mestre Zen, de iluminado, contemplativo, de verdadeiro saniasis.
Contou ele que, “nas suas costumeiras andanças pelo mundo, um dia, já anoitecendo, encontrou um menino, na estrada, sozinho e Deus. De feição ingênua, inocente, trazia o menino entre as mãos, uma vela acesa, uma chama bonita, ora virando para um lado ora para o outro, todavia acesa.
O mestre, então, curioso e fascinado pela beleza e candura da criança, resolveu brincar com ela, indagando:
- Meu menino, você será capaz de me dizer de onde vem a chama dessa vela?
O menino parou, olhou bem para a chama da vela e, num impulso, mansamente retorquiu:
- Só responderei, se o Senhor me disse para onde essa chama vai.
deixando uma fumacinha que,
aos poucos, ia desaparecendo no ar...”.