“Fazei todo o Povo entrar”
Reminiscências de Nazaré das Farinhas
Terra Natal
Edvaldo Santiago
Aconteceu realmente.
Na “Missa do Batismo do Senhor”, em Nazaré das Farinhas, onde passei alguns dias revendo familiares e amigos.
Dia 10 de janeiro, como de costume fui à missa e, na entrada, recebi o semanário litúrgico catequético “O Domingo”: Missa do Batismo do Senhor.
Reminiscências de Nazaré das Farinhas
Terra Natal
Edvaldo Santiago
Aconteceu realmente.
Na “Missa do Batismo do Senhor”, em Nazaré das Farinhas, onde passei alguns dias revendo familiares e amigos.
Dia 10 de janeiro, como de costume fui à missa e, na entrada, recebi o semanário litúrgico catequético “O Domingo”: Missa do Batismo do Senhor.
Contrito, com pensamentos os melhores possíveis, levantei e com todos os outros entoamos o canto de entrada:
“Eis meu povo, o banquete / que preparei para ti / sofredor, pecador também / todo o pobre bem vindo aqui”.
Nisso, bem no meio do canto, entra na igreja um doido, nu de cintura para cima, sujo dos pés à cabeça, como se houvesse dormido na areia, num galinheiro; ainda por cima com uma pena de galinha na cabeça. Sentou-se no banco da minha frente e resmungava, mastigando sozinho não sei o quê.
Tomados de surpresa, fitei a minha frente o doido e com medo pensei, confesso, em sair do lugar. Os vizinhos de banco se afastavam e o zum-zum-zum aumentava em torno do doido.
Tudo isso se passava enquanto se entoava o canto de entrada:
“Mandei os servos por ruas e praças”.
Fazei todo povo entrar: / cego e coxo, o pobre, o infeliz, / venham todos comigo cear".
E começaram a chegar os cristãos a convidar o doido a sair da igreja; incomodados e com medo dele. Resmungava e não saía; estava zangado. Insistiam com ele as irmãs e resmungando sempre, disse não sair e não saiu do banco, nem da igreja.
E eu, olhando tudo isso, meditando, pensando, vivendo a cena e dizendo a mim mesmo:
- Será que o doido não tinha razão?
“Fazei todo o povo entrar: cego, coxo, o infeliz!”
Preparado o banquete, os convidados recusaram-se a comparecer; todos estavam ocupados em seus afazeres, nas suas labutas, cuidando das coisas, e o doido, o infeliz entrou na igreja, para tomar parte do banquete. Todo o filho é bem-vindo aqui.
Não sei o que se passa na cabeça do doido; se pensava, se orava, se tinha onde morar e estava alimentado; se sofria ou sabia que sofria. Não tinha, não tem ninguém. Vive à parte ou vegeta, não sei.
Sobretudo, participa, queiramos ou não, do Reino do Senhor!
“No batismo, diz “O Domingo”, o Espírito vem a nós não para segregarmos dos outros, mas para unir-nos aos outros; não para separar-nos do mundo, mas para fazer-nos solidários com o mundo; não para transformar-nos em elite no meio da “massa pecadora” mas para levarmos a massa a viver a vida de filhos de Deus”.
Continuou a missa, a procissão das ofertas, o banquete eucarístico, os ritos finais, a bênção do encerramento.
E o doido assistiu a tudo, quieto, "contrito", a ninguém incomodou.
O canto final dizia assim:
“Ide por todo o mundo, / anunciai o Evangelho! / Ide por todo mundo / anunciai o amor de Deus!”
Vamos deixar o doido de lado e vamos dar testemunho. Abrir espaço para os outros, tentar ser fermento de uma nova era; criar melhores laços de afetos em nosso trabalho, em nossa profissão, respeitando os outros; vamos tentar sempre ter em mente que somos iguais aos outros; vamos ser humildes. E, bons. Fraternos.
“Eis meu povo...”.
10.01.2002
26.01.2009
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