Como vai você?
Não nos sai da cabeça esta expressão tão bonita, por demais afetiva e necessária a todo momento.
Nasceu a idéia de escrever sobre ela, em razão do acontecimento raro e belo do maestro Marco Camargo e sua apresentação na Record, semanas atrás. Fato inédito e digno de menção. Sublime!
Maestro, abençoado e feliz consigo mesmo, se deu na idéia de organizar um CORAL com moradores de rua. Gente sem eira nem beira, todavia gente como nós seres humanos criados a imagem e semelhança de Deus.
Não sabemos se só ou acompanhado, saiu pelas ruas à procura dos seus cantores. Quanta dificuldade, que luta para encontrar seus astros. Na sua maioria, doentes, famintos, tristes, drogados, à toa, sem o que comer, o que beber, mal vestidos e de olhares sem horizonte.
Por certo, lutou o maestro, catando daqui e dali as pessoas, homens e mulheres, até encontrar um grupo capaz de organizar o CORAL dos moradores de rua. Após a difícil seleção, banho, asseio, maquiagem, roupa decente ensaios, muitos ensaios, até a solene apresentação da Record. Bonita, solene, digna, CORAL de pessoas, pessoas como cidadãos, respeitáveis e admirados pela coragem e a determinação de um MAESTRO com letras maiúsculas. Conseguiu provar que ainda existe o amor e, quando se quer, Deus opera milagres.
Homens e mulheres, maduros, idosos, jovens alguns, o maestro e o grupo pareciam seres humanos e divinos a um só tempo. Tal a postura, a elegância, a dignidade em serem, não mais moradores de rua, mas homens, mulheres, jovens de admiração e um orgulho de ser gente, cantando, em solo e em coro, com a platéia os aplaudindo de pé, numa atitude de respeito de que tanto necessitava a auto-estima de todos eles. Aleluia! Viva a solidariedade humana! Viva o Amor!
Como vai você?
Esta pergunta nos balançou o corpo e alma e o espírito nos fez falar, escrever, comentar tal gesto, tanta beleza, espetáculo maravilhoso: E músicas foram cantadas, meneios de corpo, pernas e braços em atitude de ritmos diversos; canções, sambas, risos, alegria, choros escondidos, uma felicidade sem par. Deus presente em cada um deles com a maestria vinda do céu. Uma composição perfeita: o maestro Marco Camargo e seu Coral de moradores de rua. Gente, gente como nós à espera de uma oportunidade.
Antes, cantava Miltinho:
“Eu não tenho onde morar,
por isso, que eu moro na rua”.
Hoje, o rei Roberto canta assim:
Como vai você?
Foi nessa interrogação que esbarramos no canto solo de uma senhora, madura, ar de tristeza e felicidade a um tempo, uma voz forte e decisiva, consciente e bela, sobressaltando todo o coral. Esta senhora, inclusive, tinha uma filha menor, também moradora de rua, participante do coral.
Eu senti, nós que assistimos ao espetáculo, ouvimos, no plural a interrogação: Como vão vocês? Vão bem? Vão mal? Têm família, mulher ou marido, filhos? Sabem o que é morar na rua, sol e chuva na cara, ao sabor do vento, do frio, sem ter o que cobrir o corpo, gelada por dentro a alma, ao léu, com fome, com sede, um teto, um leito decente, um amigo ou familiar que nos acuda? Apenas, doentes, sofridos, drogados, desconfiados de tudo e de todos. Moradores de rua... Sem mais, nem menos.
Mudando um pouco do assunto, sabem o que significa a palavra Você?
Permitam-nos, sem nem um ar doutoral ou filosófico, expor. Gramaticalmente, a palavra você vem de Vossa Mercê, vosmecê, você, pela lei do menor esforço, até mesmo, simplesmente, você. É um pronome de tratamento, terceira pessoa. Todavia, nas partes do discurso: Eu, que falo, tu, meu interlocutor, que escuta ele, de que algo ou alguém de quem se fala. Pois bem, você, terceira pessoa, funciona como Tu segunda pessoa, com quem se fala. Eu falo; Você (Tu) escuta; Ele ou ela- pessoa ou assunto a respeito de que Eu e Você falamos ou tratamos. Sem Você, que me escuta, que seria de mim sem um interlocutor?
Psicológica ou filosoficamente, mais importante, ainda, o valor de Você. Sem Você que me vê, que me escuta, que sente a minha presença, jamais saberia Eu quem sou, como sou, como estou aqui e agora. Sozinho, em solitude, estaria sem rumo, sem caminho a seguir. Você sou Eu; Eu sou Você. Nós somos um. A unidade. Desde o início do mundo, Deus nos fez plural, Ele nos criou mais de um, a afim de que, como suas criaturas, também criadores, evoluidíssimos. Como acontece até hoje, Ninguém é ou está sozinho no universo, mormente, hoje, diante de centenas de meios de comunicação. Sempre alguém fala, outro escuta e de alguma coisa que se fala ou se trata.
Se, diante de um espelho, Eu me fixo, só vejo a minha imagem, repetindo meus gestos, meus olhares, minhas caretas, sem, no entanto, nada me acrescentar em termos de mudanças de gestos, atitudes ou hábitos. Sem Você, quem sou? Nada. Apenas uma imagem solitária, sem, nem mesmo a quem imitar...
A rigor, somos um com o nosso semelhante (Você), com a natureza e com o Outro, o Criador de todas as cosas. Mais ainda: somos todos dependentes uns dos outros. Ninguém é maior ou melhor do que ninguém. Viva a vida, vivamos todos deste jeito. Viva a liberdade!
Se fomos gerados e nascidos do mesmo modo, por que moradores de rua e moradores de mansões ou palácios? Por que uns em colchões de luxo e outros morrendo de frio nas cidades; debaixo das pontes ou de viadutos? Destino, escolhas, sina, seja qual for o apelido que se dê a esta exclusão, estamos todos nós sendo injustos, cruéis com essa insensibilidade, esse desamor tão profundo.
Com voz forte e interrogativa, a moradora de rua, no coral de Marco Camargo, nos indagava, nos inquiria, significativamente, perguntava:
Como vai você?
Vai bem, vai mal? Já comeu hoje? Alguém perguntou por você, procurou saber onde estava? Você tem família, mulher, filhos, irmãos? De onde é, de onde veio, onde nasceu, tem parentes por perto? Já foi rico ou rica, teve uma profissão, sabe ler e escrever? Sabe que existe governo, sociedades, organizações beneficentes, benditos voluntários que ainda lutam por você, por vocês?
Inesquecível a apresentação do Coral dos moradores de rua. Grande exemplo de amor samaritano do maestro Marca Camargo! Chega de gastar dinheiro com bombas e armas de matar. Vamos gastar dinheiro salvando vidas, dando de-comer e de beber a quem necessita.
Está na hora de respondermos aos moradores de rua, aos excluídos, aos fora do sistema cruel do dinheiro, dos juros, da ganância. Precisamos, com urgência de um cântico novo, orações fervorosas a Deus, pela Paz Universal! O sol nasce para todos, indistintamente”
Em gestos concretos, todos nós, da maneira possível, vamos cantar com Roberto Carlos:
“Como vai você?
Eu preciso saber da sua vida, razão da minha paz já esquecida.
Não sei se gosto mais de mim ou de você.
Como vai você?
Wanda e Tatai
24.02.2012
Não nos sai da cabeça esta expressão tão bonita, por demais afetiva e necessária a todo momento.
Nasceu a idéia de escrever sobre ela, em razão do acontecimento raro e belo do maestro Marco Camargo e sua apresentação na Record, semanas atrás. Fato inédito e digno de menção. Sublime!
Maestro, abençoado e feliz consigo mesmo, se deu na idéia de organizar um CORAL com moradores de rua. Gente sem eira nem beira, todavia gente como nós seres humanos criados a imagem e semelhança de Deus.
Não sabemos se só ou acompanhado, saiu pelas ruas à procura dos seus cantores. Quanta dificuldade, que luta para encontrar seus astros. Na sua maioria, doentes, famintos, tristes, drogados, à toa, sem o que comer, o que beber, mal vestidos e de olhares sem horizonte.
Por certo, lutou o maestro, catando daqui e dali as pessoas, homens e mulheres, até encontrar um grupo capaz de organizar o CORAL dos moradores de rua. Após a difícil seleção, banho, asseio, maquiagem, roupa decente ensaios, muitos ensaios, até a solene apresentação da Record. Bonita, solene, digna, CORAL de pessoas, pessoas como cidadãos, respeitáveis e admirados pela coragem e a determinação de um MAESTRO com letras maiúsculas. Conseguiu provar que ainda existe o amor e, quando se quer, Deus opera milagres.
Homens e mulheres, maduros, idosos, jovens alguns, o maestro e o grupo pareciam seres humanos e divinos a um só tempo. Tal a postura, a elegância, a dignidade em serem, não mais moradores de rua, mas homens, mulheres, jovens de admiração e um orgulho de ser gente, cantando, em solo e em coro, com a platéia os aplaudindo de pé, numa atitude de respeito de que tanto necessitava a auto-estima de todos eles. Aleluia! Viva a solidariedade humana! Viva o Amor!
Como vai você?
Esta pergunta nos balançou o corpo e alma e o espírito nos fez falar, escrever, comentar tal gesto, tanta beleza, espetáculo maravilhoso: E músicas foram cantadas, meneios de corpo, pernas e braços em atitude de ritmos diversos; canções, sambas, risos, alegria, choros escondidos, uma felicidade sem par. Deus presente em cada um deles com a maestria vinda do céu. Uma composição perfeita: o maestro Marco Camargo e seu Coral de moradores de rua. Gente, gente como nós à espera de uma oportunidade.
Antes, cantava Miltinho:
“Eu não tenho onde morar,
por isso, que eu moro na rua”.
Hoje, o rei Roberto canta assim:
Como vai você?
Foi nessa interrogação que esbarramos no canto solo de uma senhora, madura, ar de tristeza e felicidade a um tempo, uma voz forte e decisiva, consciente e bela, sobressaltando todo o coral. Esta senhora, inclusive, tinha uma filha menor, também moradora de rua, participante do coral.
Eu senti, nós que assistimos ao espetáculo, ouvimos, no plural a interrogação: Como vão vocês? Vão bem? Vão mal? Têm família, mulher ou marido, filhos? Sabem o que é morar na rua, sol e chuva na cara, ao sabor do vento, do frio, sem ter o que cobrir o corpo, gelada por dentro a alma, ao léu, com fome, com sede, um teto, um leito decente, um amigo ou familiar que nos acuda? Apenas, doentes, sofridos, drogados, desconfiados de tudo e de todos. Moradores de rua... Sem mais, nem menos.
Mudando um pouco do assunto, sabem o que significa a palavra Você?
Permitam-nos, sem nem um ar doutoral ou filosófico, expor. Gramaticalmente, a palavra você vem de Vossa Mercê, vosmecê, você, pela lei do menor esforço, até mesmo, simplesmente, você. É um pronome de tratamento, terceira pessoa. Todavia, nas partes do discurso: Eu, que falo, tu, meu interlocutor, que escuta ele, de que algo ou alguém de quem se fala. Pois bem, você, terceira pessoa, funciona como Tu segunda pessoa, com quem se fala. Eu falo; Você (Tu) escuta; Ele ou ela- pessoa ou assunto a respeito de que Eu e Você falamos ou tratamos. Sem Você, que me escuta, que seria de mim sem um interlocutor?
Psicológica ou filosoficamente, mais importante, ainda, o valor de Você. Sem Você que me vê, que me escuta, que sente a minha presença, jamais saberia Eu quem sou, como sou, como estou aqui e agora. Sozinho, em solitude, estaria sem rumo, sem caminho a seguir. Você sou Eu; Eu sou Você. Nós somos um. A unidade. Desde o início do mundo, Deus nos fez plural, Ele nos criou mais de um, a afim de que, como suas criaturas, também criadores, evoluidíssimos. Como acontece até hoje, Ninguém é ou está sozinho no universo, mormente, hoje, diante de centenas de meios de comunicação. Sempre alguém fala, outro escuta e de alguma coisa que se fala ou se trata.
Se, diante de um espelho, Eu me fixo, só vejo a minha imagem, repetindo meus gestos, meus olhares, minhas caretas, sem, no entanto, nada me acrescentar em termos de mudanças de gestos, atitudes ou hábitos. Sem Você, quem sou? Nada. Apenas uma imagem solitária, sem, nem mesmo a quem imitar...
A rigor, somos um com o nosso semelhante (Você), com a natureza e com o Outro, o Criador de todas as cosas. Mais ainda: somos todos dependentes uns dos outros. Ninguém é maior ou melhor do que ninguém. Viva a vida, vivamos todos deste jeito. Viva a liberdade!
Se fomos gerados e nascidos do mesmo modo, por que moradores de rua e moradores de mansões ou palácios? Por que uns em colchões de luxo e outros morrendo de frio nas cidades; debaixo das pontes ou de viadutos? Destino, escolhas, sina, seja qual for o apelido que se dê a esta exclusão, estamos todos nós sendo injustos, cruéis com essa insensibilidade, esse desamor tão profundo.
Com voz forte e interrogativa, a moradora de rua, no coral de Marco Camargo, nos indagava, nos inquiria, significativamente, perguntava:
Como vai você?
Vai bem, vai mal? Já comeu hoje? Alguém perguntou por você, procurou saber onde estava? Você tem família, mulher, filhos, irmãos? De onde é, de onde veio, onde nasceu, tem parentes por perto? Já foi rico ou rica, teve uma profissão, sabe ler e escrever? Sabe que existe governo, sociedades, organizações beneficentes, benditos voluntários que ainda lutam por você, por vocês?
Inesquecível a apresentação do Coral dos moradores de rua. Grande exemplo de amor samaritano do maestro Marca Camargo! Chega de gastar dinheiro com bombas e armas de matar. Vamos gastar dinheiro salvando vidas, dando de-comer e de beber a quem necessita.
Está na hora de respondermos aos moradores de rua, aos excluídos, aos fora do sistema cruel do dinheiro, dos juros, da ganância. Precisamos, com urgência de um cântico novo, orações fervorosas a Deus, pela Paz Universal! O sol nasce para todos, indistintamente”
Em gestos concretos, todos nós, da maneira possível, vamos cantar com Roberto Carlos:
“Como vai você?
Eu preciso saber da sua vida, razão da minha paz já esquecida.
Não sei se gosto mais de mim ou de você.
Como vai você?
Wanda e Tatai
24.02.2012
Nenhum comentário:
Postar um comentário