domingo, 9 de novembro de 2008

“Epa-epa”, o homem do pão - Eu nunca menti!

De um longo papo e paciente, com Epa-epa, nos veio a idéia deste escrito. Sobretudo da expressão que não nos saiu da cabeça:


No meio da conversa, a propósito de um beco seu que querem surrupiar, cá nos vêm a bela e maravilhosa expressão do interlocutor:


- Professor Tatai
EU NUNCA MENTI!


Essa frase nos emocionou de tal forma que a grafei em letras maiúsculas. Pelo amor de Deus, no mundo de hoje, meio a tantos políticos, correndo por conta de tantas CPIS intermináveis, ouvir um cidadão dizer que nunca mentiu, é demais. Assusta!


Interessante é que o papo foi ocorrido na semana passada e, agora, hoje, deu-nos na teta escrever. Hoje, dia 5 de novembro, aniversário de Rui Barbosa, o homem, o gênio que abominava a mentira. Perdeu duas eleições para Presidência da República, porque não mentiu.


E Epa-epa, homem humilde, vendedor de pão, aos noventa e três anos de idade, nos diz, batendo no peito
EU NUNCA MENTI!


Conhecemos Epa-epa, desde os dias que residíamos na rua Borges de Barros, 37, defronte do Fórum.


Fomos seus fregueses e de manhã e de tarde, nos era peculiar o seu grito, o seu chamado: Epa-epa, e já corríamos todos, com o saco de pão, a fim de atender o seu grito de vendedor esperto, inteligente e querido por uma população inteira.


Pão bom, pão escolhido, pão de milho, de leite, “provençal”, pão francês, pão comum, pão de sal, pão doce. Era nome de pão que não acaba mais. E o nosso retratado era esperado todos os dias; pela manhã e à tarde.


E esse cidadão, que nunca mentiu, vendia 1.500 pães todos os dias, com freguesia certa e responsável. Isso lhe permitiu viver – durante 35 anos e, até hoje,, aposentado, um vida digna, honesta, de um homem de bem consigo mesmo e com a vida.


Conhecido por toda a comunidade, Epa-epa tem entrada franca em toda casa, onde chega, toma café, almoço, janta e, se quiser, dorme. É uma figura maravilhosa, um Tipo Inesquecível, como o tipo retratado na revista “Seleções – Reader’s Digest”.

Trinta e cinco anos vendendo pães e nunca mentiu!

Meu Deus, esse homem, Epa-epa, é perigoso, corre o risco de ser preso, por honestidade. Precisa viver escondido e evitar esses ditos estranhos, incomuns em pleno desuso – com raríssimas e gratas exceções, aqui e acolá.

No nosso papo, deixando-o à vontade, contou suas histórias, seus passeios pelo Brasil a fora. Tem fihos, netos, bisnetos, sobrinhos por todos os cantos e viajava sempre para esses cantos. Conhece o Rio, Belo Horizonte Mato Grosso, Salvador, São Paulo, , , Capão da Serra, onde em parente locutor e desses cantos e recantos traz casos de todos os seus parentes. Uma saga a vida de Epa-epa: 93 anos de idade e anda por Ipiaú o dia inteiro, contando a história do homem que nunca mentiu.
No meio da sua conversa, a Bíblia. Contou-nos quem foi Jonas e como ele fugiu num barco e, para não naufragar a embarcação, jogaram-no no mar ficando no ventre do peixe por três dias.

Discorreu sobre a fé de Jô, o homem rico que perdeu tudo e não deixou de gostar de Deus. Jô, o homem paciente, sofredor, tentado pelo Diabo, mas que não perdeu o amor de Deus.

À sua maneira, mostrou-se um homem de fé. Teve, não sabemos se todos sabem, teve um filho assassinado barbaramente, o que o fez sofredor muito. Iss lá por São Paulo, lugar Eles já falavam das mentiras...Álvaro Dias lembrou Eça de Queiroz que, em 1871, indignado com a realidade vivida em Portugal, disse que ‘’O país perdeu a inteligência e a consciência moral...’’ E Rui Barbosa, em 1919, falou em discurso durante campanha presidencial que ‘’Mentira, toda ela. Mentira de tudo, em tudo e por tudo. Mentira nos projetos, mentira nos protestos, nas coligações, nos blocos...’’ e ainda Mário Quintana ‘’A mentira é uma verdade que esqueceu de acontecer’’ difícil de arranjar ajuda. Demos-lhe muito conselho, que tivesse paciência e fé em Deus, que faria justiça, conseguindo, assim, trazer um pouco de paz a sua vida.

Pegando o gancho, aliando-nos à Bíblia, com Epa-epa, mencionamos o Mestre que nos falou, antes, sobre a verdade (João 8, 3 2):

"Conhecereis a verdade e a verdade vos libertará”

Nosso retratado não mente. Está com a verdade, é um homem livre. Não tem rabo preso, pode sorrir, curtir, chorar sem medo de errar.

Que bom, Epa-epa, conversar com você, ouvir pacientemente, os seus casos de ontem, de anteontem de um passado onde o fio do bigode tinha valor. E a palavra, a Palavra, que valia tanto quanto a própria assinatura!

Sem o perceber, hoje, dia de Rui, um cidadão apelidado por Epa-epa, afirma que

nunca mentiu!

Perdoem-nos e nos permitam a digressão. No momento atual, é oportuna a citação.

A respeito da mentira, como exemplo e lembrança, num dos seus discursos, sobre a CPFM, falou o senador Álvaro lembrou:

- Eça de Queiroz que, em 1871, indignado com a realidade vivida em Portugal, disse que ‘’O país perdeu a inteligência e a consciência moral...’’

- Rui Barbosa, em 1919, falou em discurso durante campanha presidencial que ‘’Mentira, toda ela. Mentira de tudo, em tudo e por tudo. Mentira nos projetos, mentira nos protestos, nas coligações, nos blocos...’’ e ainda Mário Quintana ‘’A mentira é uma verdade que esqueceu de acontecer’’.

1919, tanto tempo depois, e a mesma realidade política. Os mesmos políticos, a mesma corrupção!

Todo esse comentário, toda essa conversa, a propósito de Epa-epa, o homem que nunca mentiu.

Humilde, vendedor de pães, 1.500 pães por dia, de família grande, cheio de filhos e netos e bisnetos, Epa-epa fez história entre nós. 93 anos de idade, baixinho, conversador que só ele. Epa-epa é história, fez história, faz história entre nós!

Epa-epa tem um nome: Antônio Ferreira da Silva.
Seus pais são: Laurenço Gonçalves da Silva e Januária Francisca de Jesus.
Nasceu em Itaquara, Bahia. De 1914.

Está entre nos há mais de cinqüenta anos.

No nosso escrito, colocamos nosso retratado, Epa-epa, entre personalidades como o Senador Álvaro Dias, Mário Quihtana, Eça de Queiroz e Rui Barbosa, cidadãos que se opõem à mentira, adeptos da verdade.

Quão diferentes a cultura, o conhecimento, a posição política e o poder. Todavia, Epa-epa nivela com todos eles, com sua idade, vivo entre, nos afiança, numa ingenuidade de criança:

nunca mentiu!

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