segunda-feira, 9 de fevereiro de 2009

Entrevista - Ana e Tissiane - UNEB



Entrevista com Tatai - Ana e Tissiane

Edvaldo Santiago


Janeiro de 2009, quarta-feira, dia 28.

Dia memorável, tarde agradável, “saudades do meu tempo de professor”

Da UNEB, Ipiaú, duas estudantes - Ana e Tissiane - vieram nos entrevistar, entrevista essa que se tornou um reencontro com as Letras, com a Filosofia, com a Linguística, razão principal da entrevista. A começar pelo trema que nos deixou em paz. Fora da reforma ortográfica atual.


Tatai entre as entrevistadoras, Ana e Tissiane.

Não sabemos se comentar o assunto da entrevista ou o encontro com as duas simpáticas e encantadoras estudantes da UNEB.

Marcada por telefone a entrevista, na hora exata as duas jovens compareceram, acomodaram-se e início de papo. Ligeira apresentação e o assunto: “Variação lingüística através dos tempos”. Palavras, expressões, ditados, gírias de hoje, de ontem, de sempre.

Como sabemos, as palavras nascem, crescem, se transformam e morrem (caem em desuso).

De inicio, quisemos perguntar às duas jovens:

- “Ainda que mal o pregunte como é a graça de vosmecês”?

Todavia, não iniciamos assim a entrevista, pois Ana, Ana Medrado nos disse logo que era filha de Hélio Medrado e Elenice, pessoas gratas que tivemos a satisfação de lhes ter ensinado no GAMI – Ginásio Agrícola Municipal de Ipiaú. Idos de 1966 a 1969. Hélio começou com exames de admissão realizados no Ginásio de Rio Novo, transferindo para o GAMI.

Ana e Tatai

Tissiane, residente em Ibirataia, a conhecemos agora, tempo bastante para perceber sua inteligência, seu gosto pelos estudos. Ambas cursam o 4º semestre em Letras, já o dissemos, na UNIVERSIDADE ESTADUAL DA BAHIA - Campus Salvador da Matta, nesta cidade.

Acomodados que fomos os três, Tissiane com a máquina fotografia, Ana encarregada das perguntas, da entrevista. Professor da disciplina: Gredfon.

Após ouvir e anotar o nosso currículo, graças a Deus, começando com a minha primeira profissão – Alfaiate – demos início à entrevista, melhor dizendo ao bate-papo, linguistico e filosófico a um só tempo. Sem faltar Psicologia, indispensável em qualquer conversa.

E passamos uma tarde inteira, regada a suco de manga, com perguntas, risos, explicações científicas, ditados populares, o tempo de ontem e o tempo de hoje e o não-tempo, mais importante que todos. Sem ontem, passado; sem amanhã, futuro. Só hoje, presente, aqui, agora.

- Alguns termos em desuso -

- Al (algo, alguma coisa) – bofé (boa fé) – antanho (antigamente – entonce (então) – pregunta, preguntar (pergunta, perguntar) – graça
(nome)

- “Ainda que mal pregunte, como é a sua graça?”) – insturdia
(outro dia) – vosmecê (Vossa Mercê, você) – na pendura, na pindaíba, estar limpo, na pior (sem dinheiro).

Tintin por tintin (detalhado, miudinho) Etimologia curiosa e duvidosa, diz dos tempos antigos, quando uma dívida era paga em moeda, queria ouvir-se o som das moedas, superpostas, batendo uma sobre a outra. Dinheiro contado com cuidado.

Pão dormido (pão de um dia para outro; mais barato). Carne virada (carne de um dia para outro, nos açougues. Mais barata).

Tatai e Tissiane

Para mudar de conversa, derivamos para Gramática: Exagero com que se ensinava. Um sem número de funções do “Que”, funções do “Se”. Indo mais longe, as sabatinas, o método de alfabetização, sílaba por sílaba. Um tormento para os alunos de respostas lentas.

Bor bo le ta - ... caneta. Rheu ma tis mo - ... remédio. Enquanto os alunos gravavam as primeiras sílabas, eram essas esquecidas em relação às sílabas seguintes. Ausência, então, da Psicologia. Fora as complicações do “Y”, “H” aspirado, o “W” e o “K”, alguns deles já de volta na atual reforma.

Os verbos namorar e ficar sofreram tais significados que a geração de hoje pode explicar melhor!

Ainda sem o uso das argolas masculinas, dos piercings, dizíamos nós às jovens bonitas. Ela é uma uva, pondo a mão na ponta da orelha, acrescentávamos: é da pontinha.

De toda a nossa conversa, da linguagem científica ao papo normal de todos os dias, a variação linguística não considera tempo, nem espaço. Interessa aos interlocutores o código e a decodificação. Boca e ouvido devem entender-se e está dado o recado.

Exemplo maior dessa variação em linguagem são a gíria e os ditados populares, provérbios nascidos da inteligência e intuição do povo, do povão.

Alguns ditados populares

Deles, conhecidos para uns ignorados para outros tantos.

Vejamos:

“Todo mundo é bom, mas meu capote sumiu·”.
“Quem foi Naninha...”. ”Aproveite enquanto Brás é tesoureiro”.
“Cafundó do Judas, Cu do Judas”. “Farinha pouca, meu pirão primeiro”.
“Quem gosta de mole vai para a boca do cano”.
“Quem cata pimenta é porque tem o que comer”.
“Quem comprou seu carvão molhado que assopre”.
“Quem dorme com viúva acorda com o lado frio”.
“A árvore cai com grande ruído, mas não se escuta a floresta que cresce” (Provérbio do Zaire, província de Angola, África).
Como lazer, que os leitores interpretem os ditados.

Adoramos a entrevista, amamos as entrevistadoras, muito gentis, aplicadas e inteligentes. Fizeram-nos dar um bom passeio de volta ao passado: a vida do educador.

Recomendem-nos ao Professor Gredfon e um cordial abraço na turma.

· Mini curriculum das jovens que nos entrevistaram:

Ana Medrado

Magistério em 1990 Graduanda do 4º Semestre / letras - UNEB Professora de Alfabetização e
Coordenadora de Educação Infantil da “Escola Ciranda das Letras”.


Tissiane Amâncio dos Santos

Formação Geral em 2002 Graduanda do 4º Semestre de Letras – UNEB.

Com muito carinho,

Prof. Tatai


10.02.2009

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