Eros e Psiqué
Edvaldo Santiago
• A história ou lenda que, aqui, comentamos é bonita demais. Nascida da mitologia grega, no tempo em que deuses e mortais casavam-se e se davam em casamento, quando, em termos de amor, tudo era possível.
O talento da escritora, a magia e inspiração do poeta e a psicologia integram-se, harmonizam-se numa história de amor tão terna e heróica que transcende os tempos. Uma história atemporal.
Eros e Psique, heróis, distantes no tempo e no espaço, são protagonistas desta história. Sylvia Mello Silva Baptista, psicóloga, autora do livro Arquétipo do Caminho, Fernando Pessoa, poeta português, autor do poema, e Carl Gustav Jung, psiquiatra suíço, fundador da psicologia analítica, urdem o drama.
Eros e Psiqué
(Cupid and Psyche)
Eros e Psiqué
Conta a lenda que dormia
Uma princesa encantada
A quem só despertaria
Um infante, que viria
De além do muro da estrada
Ele tinha que, tentado,
Vencer o mal e o bem,
Antes que, já libertado,
Deixasse o caminho errado
Por o que à Princesa vem.
A Princesa adormecida,
Se espera, dormindo espera.
Sonha em morte a sua vida,
E orna-lhe a fronte esquecida,
Verde, uma grinalda de hera.
Longe o Infante, esforçado,
Sem saber que intuito tem
Rompe o caminho fadado.
Ele dela é ignorado.
Ela para ele é ninguém.
Mas cada um cumpre o Destino.
Ela dormindo encantada,
Ele buscando-a sem tino
Pelo processo divino
Que faz existir a estrada.
E, se bem que seja obscuro
Tudo que pela estrada fora,
E falso, ele vem seguro,
E vencendo estrada e muro,
Chega onde em sonho ela mora.
E, inda tonto do que houvera,
A cabeça, em maresia,
Ergue a mão, e encontra hera,
E vê que ele mesmo era
A Princesa que dormia.
- Fernando Pessoa, 1983 -
Após palavras iniciais, fineza leia, atentamente, o poema. Se necessário, releia-o.
Vamos ao comentário:
Este poema está inserido no livro de Sylvia Mello Silva Baptista, “Arquétipo do Caminho”, capitulo inicial, O CAMINHANTE, página 19.
.....
A autora começa seu belo livro, com o poema Eros e Psique, história de amor, inspirada na mitologia, quando deuses e mortais entendiam-se como se fossem iguais.
Psique, filha de reis, de tão bonita que era, causava inveja mortal a Afrodite, mãe de Eros, a ponto de tentar matar sua rival em beleza. Assim, induziu seu filho, Eros, a aproximar-se da bela Psique, flechá-la, matá-la, ficando sozinha com sua beleza de deusa do Olimpo.
Todavia, não foi assim que aconteceu. Eros (Cupido), o deus do amor, apaixonou-se por Psique, nascendo, desse modo, uma história tão bonita que nos levou a ler toda a lenda e sentir o valor do amor puro, ainda existente até hoje.
O Arquétipo do Caminho trata do processo de individuação, sua busca, isso na linha da Psicologia Analítica de Jung. A jornada é longa, complexa com idas e vindas, encontros e desencontros, até chegar-se ao Si-mesmo, essência divina.
Não há caminhos traçados, linhas exatas a serem seguidas, no processo de individuação. O meu caminho é meu, o seu caminho é seu. Ainda, como diz o poeta, a rigor, não há caminhos, caminho faz-se, caminhando.
De tanta coisa bela que há nesse livro, o poema de Fernando Pessoa, chamou-nos, a atenção, o animus-anima de Jung. Todo homem tem em si o feminino. Toda mulher tem o masculino. Não se trata de aspectos físicos, mas de traços e características espirituais.
Em A NOVA ALQUIMIA, o filósofo e sábio oriental Osho nos explica essa nova ótica do homem e da mulher. Ed Cultrix, 1ª edição / S. Paulo / 1992 / pág. 190.
'-
“Atualmente, a psicologia moderna, particularmente a psicologia de Jung, chegou a descobrir um conceito, tãntrico muito anti¬go. O tantra diz que cada homem e cada mulher é bissexual. Nenhum homem é apenas homem. Ele também é mulher, num sentido. E nenhuma mulher é apenas mulher. No fundo, há um homem oculto nela, Assim, cada indivíduo, homem ou mulher, é bissexual. O oposto está oculto por. baixo.
Em profunda meditação, um orgasmo sexual acontece - não com alguém fora de você, mas sim interiormente, com o seu próprio pólo oposto. Vocês se encontram ali: sua mulher interior e seu homem inte¬rior se encontram. O encontro é espiritual, não corporal. Eles penetram um no outro, yin e yang. Penetram-se um no outro, tornam-se um, fun¬dem-se. Meditação é um profundo orgasmo sexual entre os seus dois pólos opostos. O mesmo medo surge novamente.
Se você entrar profundamente na meditação, um dia, mais cedo ou mais tarde, sentirá que o último momento chegou. A morte ocorrerá: agora morrerei. O medo o agarra. Nesse medo, você pode voltar. Se voltar, perderá uma grande oportunidade que só vem raramente, muito I raramente. Vidas e vidas passam antes que esse raro momento venha. esse momento no qual você começa a sentir um profundo orgasmo interior. A mulher interior e o homem interior estão se encontrando; um dos pólos opostos estão penetrando um no outro, tornando-se um”.
Após este simples comentário, pedimos, insistimos que leiam o livro de Sylvia, bem como a lenda de Eros e Psique. E observem, meditem e se enlevem diante de tanta beleza.
Os deuses, os mortais, a alma humana e seus insondáveis mistérios!
• Sylvia Mello Silva Baptista é psicóloga clínica, analista junguiana, membro da Sociedade Brasileira de Psicologia Analítica (SBPA) e International Association for Analytical Psychology (IAAP), especialista e mestre em Psicologia
Clínica pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo.
Fernando António Nogueira Pessoa (Lisboa, 13 de Junho de 1888 — Lisboa, 30 de Novembro de 1935), mais conhecido como Fernando Pessoa, foi um poeta e escritor português.
Carl Gustav Jung (Kesswil, 26 de julho de 1875 - Küsnacht, 6 de junho de 1961) foi um psiquiatra suíço e fundador da psicologia analítica, também conhecida como psicologia junguiana.
.30.11.2009.
Edvaldo Santiago
• A história ou lenda que, aqui, comentamos é bonita demais. Nascida da mitologia grega, no tempo em que deuses e mortais casavam-se e se davam em casamento, quando, em termos de amor, tudo era possível.
O talento da escritora, a magia e inspiração do poeta e a psicologia integram-se, harmonizam-se numa história de amor tão terna e heróica que transcende os tempos. Uma história atemporal.
Eros e Psique, heróis, distantes no tempo e no espaço, são protagonistas desta história. Sylvia Mello Silva Baptista, psicóloga, autora do livro Arquétipo do Caminho, Fernando Pessoa, poeta português, autor do poema, e Carl Gustav Jung, psiquiatra suíço, fundador da psicologia analítica, urdem o drama.
Eros e Psiqué
(Cupid and Psyche)
Eros e Psiqué
Conta a lenda que dormia
Uma princesa encantada
A quem só despertaria
Um infante, que viria
De além do muro da estrada
Ele tinha que, tentado,
Vencer o mal e o bem,
Antes que, já libertado,
Deixasse o caminho errado
Por o que à Princesa vem.
A Princesa adormecida,
Se espera, dormindo espera.
Sonha em morte a sua vida,
E orna-lhe a fronte esquecida,
Verde, uma grinalda de hera.
Longe o Infante, esforçado,
Sem saber que intuito tem
Rompe o caminho fadado.
Ele dela é ignorado.
Ela para ele é ninguém.
Mas cada um cumpre o Destino.
Ela dormindo encantada,
Ele buscando-a sem tino
Pelo processo divino
Que faz existir a estrada.
E, se bem que seja obscuro
Tudo que pela estrada fora,
E falso, ele vem seguro,
E vencendo estrada e muro,
Chega onde em sonho ela mora.
E, inda tonto do que houvera,
A cabeça, em maresia,
Ergue a mão, e encontra hera,
E vê que ele mesmo era
A Princesa que dormia.
- Fernando Pessoa, 1983 -
Após palavras iniciais, fineza leia, atentamente, o poema. Se necessário, releia-o.
Vamos ao comentário:
Este poema está inserido no livro de Sylvia Mello Silva Baptista, “Arquétipo do Caminho”, capitulo inicial, O CAMINHANTE, página 19.
.....
A autora começa seu belo livro, com o poema Eros e Psique, história de amor, inspirada na mitologia, quando deuses e mortais entendiam-se como se fossem iguais.
Psique, filha de reis, de tão bonita que era, causava inveja mortal a Afrodite, mãe de Eros, a ponto de tentar matar sua rival em beleza. Assim, induziu seu filho, Eros, a aproximar-se da bela Psique, flechá-la, matá-la, ficando sozinha com sua beleza de deusa do Olimpo.
Todavia, não foi assim que aconteceu. Eros (Cupido), o deus do amor, apaixonou-se por Psique, nascendo, desse modo, uma história tão bonita que nos levou a ler toda a lenda e sentir o valor do amor puro, ainda existente até hoje.
O Arquétipo do Caminho trata do processo de individuação, sua busca, isso na linha da Psicologia Analítica de Jung. A jornada é longa, complexa com idas e vindas, encontros e desencontros, até chegar-se ao Si-mesmo, essência divina.
Não há caminhos traçados, linhas exatas a serem seguidas, no processo de individuação. O meu caminho é meu, o seu caminho é seu. Ainda, como diz o poeta, a rigor, não há caminhos, caminho faz-se, caminhando.
De tanta coisa bela que há nesse livro, o poema de Fernando Pessoa, chamou-nos, a atenção, o animus-anima de Jung. Todo homem tem em si o feminino. Toda mulher tem o masculino. Não se trata de aspectos físicos, mas de traços e características espirituais.
Em A NOVA ALQUIMIA, o filósofo e sábio oriental Osho nos explica essa nova ótica do homem e da mulher. Ed Cultrix, 1ª edição / S. Paulo / 1992 / pág. 190.
'-
“Atualmente, a psicologia moderna, particularmente a psicologia de Jung, chegou a descobrir um conceito, tãntrico muito anti¬go. O tantra diz que cada homem e cada mulher é bissexual. Nenhum homem é apenas homem. Ele também é mulher, num sentido. E nenhuma mulher é apenas mulher. No fundo, há um homem oculto nela, Assim, cada indivíduo, homem ou mulher, é bissexual. O oposto está oculto por. baixo.
Em profunda meditação, um orgasmo sexual acontece - não com alguém fora de você, mas sim interiormente, com o seu próprio pólo oposto. Vocês se encontram ali: sua mulher interior e seu homem inte¬rior se encontram. O encontro é espiritual, não corporal. Eles penetram um no outro, yin e yang. Penetram-se um no outro, tornam-se um, fun¬dem-se. Meditação é um profundo orgasmo sexual entre os seus dois pólos opostos. O mesmo medo surge novamente.
Se você entrar profundamente na meditação, um dia, mais cedo ou mais tarde, sentirá que o último momento chegou. A morte ocorrerá: agora morrerei. O medo o agarra. Nesse medo, você pode voltar. Se voltar, perderá uma grande oportunidade que só vem raramente, muito I raramente. Vidas e vidas passam antes que esse raro momento venha. esse momento no qual você começa a sentir um profundo orgasmo interior. A mulher interior e o homem interior estão se encontrando; um dos pólos opostos estão penetrando um no outro, tornando-se um”.
Após este simples comentário, pedimos, insistimos que leiam o livro de Sylvia, bem como a lenda de Eros e Psique. E observem, meditem e se enlevem diante de tanta beleza.
Os deuses, os mortais, a alma humana e seus insondáveis mistérios!
• Sylvia Mello Silva Baptista é psicóloga clínica, analista junguiana, membro da Sociedade Brasileira de Psicologia Analítica (SBPA) e International Association for Analytical Psychology (IAAP), especialista e mestre em Psicologia
Clínica pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo.
Fernando António Nogueira Pessoa (Lisboa, 13 de Junho de 1888 — Lisboa, 30 de Novembro de 1935), mais conhecido como Fernando Pessoa, foi um poeta e escritor português.
Carl Gustav Jung (Kesswil, 26 de julho de 1875 - Küsnacht, 6 de junho de 1961) foi um psiquiatra suíço e fundador da psicologia analítica, também conhecida como psicologia junguiana.
.30.11.2009.
Um comentário:
Olá Sr Edvaldo,
Parabéns, adorei seu blog e os textos, espero que o Sr. esteja ouvindo tão bem quanto escreve.
Abraços,
Daiane Félix (Fonoaudióloga do AUDICENTRO)
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